segunda-feira, 23 de abril de 2012
Traduzir-se - Poema de Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir
uma parte na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
FERREIRA GULLAR
Nascido em São Luis do Maranhão, em 1930, Ferreira Gullar, procurou apontar em sua obra a problemática da vida política e social do homem brasileiro.
De uma forma precisa e profundamente poética traçou rumos e participou ativamente das mudanças políticas e sociais brasileiras, o que lhe levou à prisão juntamente com Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1968 e posteriormente ao exílio em 1971 .
Poeta, crítico, teatrólogo e intelectual, Ferreira Gullar entra para a história da literatura como um dos maiores expoentes e influenciadores de toda uma geração de artistas dos mais diversos segmentos das artes brasileiras.
__________
Título da ilustração: Anfótero. Do grego amphóteros – um e outro. É o sujeito que tem de si duas características antagônicas. Num momento e por um determinado ângulo ele mostra qualidades apreciáveis para no momento seguinte exibir o oposto.
Fonte: "Dicionário Brasileiro de Insultos", Altair J. Aranha, São Paulo, 2002, Ateliê Editorial - www.atelie.com.br
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário